ÚTERO FURIOSO

Há alguns dias, fui ao ginecologista. Coisa que vinha adiando a mais tempo do que deveria. Aí, como não podia deixar de ser, deu merda. Terei que fazer uma histerectomia, ou seja retirada do útero, por causa de um mioma gigante que se encontra abrigado nele.

Antes que meus amados e insanos leitores fiquem com pena de mim, quero adiantar que, embora não seja uma notícia das mais agradáveis, não tenho tanto apego por essa parte do meu corpo, afinal, útero só serve para duas coisas: ter filho e doença. Filhos eu já tenho e doença eu não quero, então, racionalmente falando, o útero não me serve de nada.

O mais chato dessa história toda é uma coisa que eu chamo de MAL NECESSÁRIO da saúde moderna que se chama PLANO DE SAÚDE. Se a gente não tem é uma lástima. Mas quando a gente tem é uma provação.

Depois que o médico disse que eu teria que fazer esta cirurgia, comecei então uma verdadeira VIA CRUCIS para chegar até à sala de cirurgia.

Primeiro dia: tive que ligar para a operadora para saber se o meu plano tinha cobertura nos hospitais em que meu médico opera. Depois de ficar algumas horas aguardando ao telefone, descobri que dos inúmeros hospitais que meu plano cobre o meu médico só opera em UM. Ou seja, não há opção. Ou você escolhe o médico ou o hospital. Os dois, não dá pra ser.

Segundo dia: ciente do hospital, fui à sede da operadora para pegar a autorização da cirurgia. Aí foi que a porca torceu o rabo. A atendente de voz pachorrenta me deu as orientações de como proceder. Ela me deu um prontuário com o timbre da operadora para o médico preencher e carimbar na frente e no verso. "Depois de preenchido o formulário, a senhora deve submeter-se à perícia ginecológica", disse a moça me entregando um cartão com o nome e o telefone da médica escrito à mão no verso.

Terceiro dia: voltei ao meu médico com o tal formulário para ele preencher, carimbar e assinar. Consultando mil e uma tabelas e códigos ele cumpriu a tarefa e me deu mais uma notícia não muito auspiciosa: o hospital no qual eu posso fazer a cirurgia com ele demora de marcar os procedimentos. O prazo médio é de três meses! É que embora seja um hospital considerado de grande porte (aliás um dos maiores de Salvador) ele só disponibiliza uma única sala para o Centro Obstétrico e as cirurcias ginecológicas concorrem com os partos e como o hospital tem um volume muito grande de convênios... a fila é grande.

No momento estou tentando marcar a tal da perícia. Já liguei inúmeras vezes para a tal médica, mas o número cai numa secretária eletrônica que diz para ligar mais tarde. Aí liguei de volta para a operadora do plano para relatar a situação e saber se não há outra opção para a perícia. A resposta foi BIZARRA. "Infelizmente não, senhora. A senhora terá que ficar tentando até ela atender. Porque ela não tem recepcionista". Esse pessoal está levando ao pé da letra a substituição dos seres humanos por máquinas...

O problema é que só depois da perícia é que eu vou poder marcar a cirurgia. Ainda tenho que providenciar fazer uma série de exames. Além dos 8 ou 10 que já fiz, falta: raio x de tórax, coagulograma, glicemia em jejum e hemograma. Depois disso, ainda tenho que voltar ao cardiologista para conseguir a liberação para a cirurgia, para depois marcar a consulta com o anestesiologista... Aff!

O pior é que eu não posso me estressar. Ainda tenho que ficar feliz e agradecer a Deus porque tenho um plano de saúde que me proporciona a possibilidade de ter acesso a um hospital particular. O problema é que os trâmites e práticas dos planos de saúde estão se assemelhando cada vez mais aos do SUS.