NUVENS DE CHUMBO DENTRO DE MIM

Hoje eu acordei cedo. Com nuvens de chumbo dentro de mim. Não há motivo específico. Há uma tempestade de ideias na minha cabeça. Raios e trovoadas em meu coração.

Lembrei-me que hoje é dia de Santa Bárbara, ou Iansã. Despertei com uma alvorada de foguetes certamente disparada por algum dos inúmeros terreiros e igrejas que existem nesta mística cidade de São Salvador. Em nenhum outro lugar do mundo eu poderia ouvir, ao mesmo tempo, os sinos em homenagem à Santa Bárbara e os rojões de Iansã. Gosto disso. A Bahia é um lugar especial.

Lembrei da minha filha de está longe estudando e morando em Brasília... Apesar da felicidade de estar tendo a oportunidade de estudar numa boa faculdade e ter o seu primeiro estágio num jornal importante, está tendo que aprender a lidar com a solidão, com a saudade e outros bichos.

Lembrei de meu pai que está morrendo em seu leito, cumprindo o final de sua jornada de uma maneira dolorosa para todos. Sei que o seu sofrimento não é em vão. Não pode ser. Também é um aprendizado para nós, os filhos... Um alerta de muitas coisas. De todas as coisas.

Penso na minha caçula fazendo recuperação de tantas disciplinas que nem sei se ela vai dar conta. Ela ainda não se deu conta de quem ela é e do que veio fazer no mundo... Não sabe o porquê das coisas.

Nesses momentos em que as tempestades de todo ano desabam sobre mim, tinha vontade de ser uma pessoa rasa. Que só consegue sentir dores físicas. Mas sou profunda... Sinto todas as dores ao meu redor as minhas e as de todos e me sinto impotente em relação a elas.

Além dos rojões mentais que estouram na minha cabeça e os raios e trovoadas que rebimbocam em meu coração, a música de Gilberto Gil em homenagem a Iansã ecoa dentro de mim.

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