segunda-feira, 27 de julho de 2009

VIDA E MORTE

Como sempre faço, todas as manhãs há mais de 40 dias, fui ao Hospital Aliança, ver meu pai. As UTIs são um ambiente insone. Seja manhã, tarde ou noite, as luzes estão sempre acesas. Não há muitas janelas para que se possa acompanhar o movimento do sol ou da lua. Não há quartos, apenas leitos divididos por paredes fechadas com portas sanfonadas para proporcionar uma relativa privacidade. Mas todos sabem mais ou menos o que está se passando uns com os outros.
No de meu pai, um porta-retrato com fotos dele, de minha mãe e das minhas filhas enfeitava o ambiente. Ontem foi dia dos avós e as meninas passaram a tarde aqui para alegrá-los. A visita delas surtiu o efeito esperado. Toda a equipe da UTI comenta que o quarto dele é sempre um oásis de paz, tranquilidade e até de alegria, apesar das dificuldades todas que ele está enfrentando.
No quarto em frente um homem urrava. E ao lado, uma mulher acabava de falecer. Embora esta seja uma rotina nas UTIs, quando alguém morre o clima fica pesado. Por mais discreta que sejam as equipes médica e de enfermagem e por mais contido que seja o sofrimento de quem perdeu seu parente. Acompanhar toda aquela cena não foi fácil para mim. Desde que mau pai está internado, outras pessoas já morreram por lá. Como disse, isso faz parte da rotina. Mas geralmente essas coisas aconteciam mais à noite quando eu não estava lá. Pela manhã, quando chegava, minha mãe sempre me atualizava sobre quem havia morrido durante a noite.
Minha mãe tem um jeito muito próprio de encarar a morte. É de um pragmatismo que chega a impressionar! Para se ter uma idéia, há muito tempo ela adquiriu uma cova no Jardim da Saudade para ela e meu pai. Depois, quando o crematório foi inaugurado, ela resolveu que não queria mais as sepulturas e comprou uma cremação para ela e meu pai. As covas, ela manteve e as DEU DE PRESENTE. Uma para mim e outra para minha irmã... É até cômico! Mas eu sou uma pessoa que tem onde cair morta!
Religiosamente ela paga o “condomínio” do cemitério onde estão as nossas covas, prontas para serem utilizadas a qualquer momento. E eu espero que não seja tão cedo, que fique bem claro!
Como disse, não foi fácil acompanhar aquela cena, mas é como minha mãe diz: a morte faz parte da vida. Assim como o nascimento é o primeiro ato, a morte é o ato final de um espetáculo que tem dia e hora para acabar, só que ninguém sabe quando. E nem é preciso saber!
O importante é viver! Viver até o fim! Aprender, chorar, sofrer, ser feliz... Fazer valer nossa passagem aqui até o último dia!

É Proibido


É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.

É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,

Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos

Não tentar compreender os que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,

Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,

Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,

Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,

Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,

Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,

Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

Pablo Neruda

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