quinta-feira, 9 de abril de 2009

CAIXINHAS

*Por Carícia Temporal
Quando o quarto está uma bagunça e a gente pára pra tentar arrumar, aparece um monte de coisinhas que não vemos há tempos. Da maioria delas temos que nos desfazer, pois acabam apenas ocupando espaço sem ter serventia alguma. Porém, existem aqueles objetos, mesmo os pequenos, que nos são impossíveis de jogar fora ou passar adiante. Por nos lembrar um momento, uma frase, um riso, uma pessoa. Por qualquer motivo bobo, à toa, juntamos esses pequenos objetos numa caixa, que tentamos guardar com carinho num cantinho do armário.
Durante o dia de Suely, ela não tem tempo de mexer nas caixinhas do armário. Tem que levantar impreterivelmente as 5h30 da manhã e com aquele sorriso enorme de quem dá bom dia aos passarinhos. Acordar filho uma vez, tomar banho, acordar filho duas vezes, encontrar uma roupa não repetida no guarda-roupa, acordar filho mais uma vez, pôr a mesa, acordar filho (já com ameaças) pela última vez ou eles vão ficar! Aí é correr 13km de uma metrópole, deixar os filhos na escola e correr pro trabalho. Trabalho de jornalista. Incessante, mal-pago e maravilhoso. Só pra quem gosta. Ela gosta. Gosta porque é doida, apaixonada pela profissão e pela vida. Enfrenta qualquer coisa, é versátil, elétrica, empolgada, capaz de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Quer fazer tudo, ajudar todo mundo. Fazer com que todos sejam tão felizes quanto ela. Na verdade, ela é inquieta, não consegue ficar parada um segundo. Reclama que não tem tempo pra descansar, mas quando tem, quer logo ocupar-se com coisas divertidas, diferentes. Ela quer mesmo é ser diferente, gosta de se destacar. E não pára de jeito nenhum. Nem no Domingo. Mestrado, coral e o pai doente no hospital. Mas nem isso é capaz de derrubá-la. Seu dia quase não cabe em 24 horas.
Uma pessoa comum, uma mulher comum, uma mãe comum, um ser humano comum. Mas quem, sendo tudo isso ao mesmo tempo, poderia ser outra coisa que não extraordinária? Mãe, eu queria era colocar você numa caixinha.
Carícia Temporal é minha filha e cursa o treceiro semestre de Comunicação Social na UnB (Universidade Nacional de Brasília). Este foi um texto que ela fez para um trabalho de Oficina de Texto do professor Luiz Martins.

3 comentários:

Unknown disse...

Eu nem sei o que estou fazendo aqui, pois sou suspeito para falar da minha Sobrinha, e mais ainda quando se trata da minha Irmã.
Mas, há algo que posso fazer, sem que ninguém possa contestar, ou alegar suspeição. Posso dizer que é tudo verdade, e que me emocionou muito saber que minha Sobrinha tem a capacidade de escrever sobre isso, de maneira tão sublime e bonita.
Parabéns Carícia. Parabéns, acima de tudo, pela Mãe que você tem.
E, saiba, você pode guardá-la sim em uma caixinha, uma que você tem e que é o muito especial. Você pode guardá-la na caixinha do seu coração.
Um beijão.

Simone Rieth disse...

Acho que vai faltar caixinhas no mercado em Salvador!!!
Lindo texto e uma doce homenagem .
Parece que muitos outros textos virão pois as laranjas não caem longe do pé !
Para uma doce família,em especial a uma delicada Carícia envio um montão de beijos de outra opinião pra lá de suspeita...

Mônica Bichara disse...

Que fofo, Suca! A sua cara. Incrível como Carícia conseguiu te descrever. Concordo com meu amigo Paulo (outro Temporal que nunca passa despercebido), só a caixinha do coração pra caber tanto amor, admiração e orgulho. Vc merece tudo isso e imagino que depois dessa declaração de amor a gargalhada/temporal tá ainda mais radiante e contagiante. grande beijo, querida (beijão também pra Carícia, que nem lembra mais dessa tia da época da Experimental),
Mônica Bichara