quarta-feira, 18 de março de 2009

O DIA EM QUE MATARAM JOLIVALDO

Eu estava em casa num sábado desses aí, tem umas duas ou três semanas, e meu compadre Marques Neto, que é advogado, me ligou. Como ele nunca me liga, ainda mais num sábado, já disse alô preocupada. Sem dó nem piedade, característica comum aos advogados (penso eu), ele me falou do outro lado da linha sem prolegômenos:
- Sú, você sabia que seu amigo Jolivaldo morreu?
Gelei na hora!
- Como assim? Perguntei sem entender nada.
- Li uma nota sobre a morte dele na coluna de óbitos do jornal A Tarde de hoje!
Esta informação impassível me levou à beira das lágrimas enquanto, sem desligar o telefone comecei a azucrinar meu marido para procurar no Jornal A Tarde a tal coluna que eu não costumo ler. Incrédula e trêmula, pensei:
- Como que é que pode Jolivaldo morrer e ninguém me avisar? Nenhum colega me ligou para me falar que ele estava no leito de morte ou coisa parecida! Que falta de consideração!
Tentei o telefone celular de Valmir Palma, mas não atendeu. Esse deve estar no velório! Aí liguei para Cíntia Medeiros que também não sabia de nada e ficou tão agoniada quanto eu. E eu não achava a parte do jornal que tem a famigerada lista dos mortos. Enquanto procurava, lembrei de Moacyr Nery, que era o responsável por fechar a coluna “Obituário” no finado Jornal da Bahia. Todo dia no final da tarde ele gritava para Verinha no Arquivo: “Ô Verinha, os mortos já chegaram, Verinha?”
Nervosa por motivos óbvios e intrigada porque não imaginava que Joli pudesse morrer tão discretamente eu continuava procurando o jornal e pensando:
- Como é que a TV Bahia não fez nenhum registro? Como é que os demais veículos não deram nenhuma linha? Apenas uma notinha sem importância na Coluna de Óbitos? Era o fim da picada! Joli não merecia isso! Não seria um defunto desse porte! Não o meu amigo Jolivaldo Freitas, jornalista, poeta, escritor, cronista e bom vivant inveterado. Tanta gente menos importante morre e ganha mais espaço! Não era possível!
Cheguei a ponderar isso com o meu compadre Marques Neto. Ele concordou que a morte repentina de um jornalista da dimensão de Jolivaldo Freitas não poderia ocorrer assim, quase no anonimato. Mesmo assim, ele me atestou de que havia lido o nome dele no obituário de A Tarde daquele sábado: Jolivaldo da Cruz Freitas.
- Pode ser um homônimo! Sugeriu meu compadre.
- Não podia ser! Não podia ser!!!! Jolivaldo da Cruz Freitas só tem um! Ele é único! Retrucava eu mentalmente.
Liguei então pra Chico Araújo que ficou tão surpreso quanto eu, mas reagiu de maneira mais ponderada, como sempre.
- Não deve ser ele não, Sú. Disse ele tentando me tranqüilizar. Mas a esta altura eu já estava desesperada demais para dar ouvidos às ponderações de Chico. Lembrei de quantos amigos eu já perdi precocemente e de que já estou cansada de ir a enterros de gente tão querida, enquanto tem tanta gente ruim precisando ocupar umas vagas no inferno. Lembrei de Armando Lobracci, de Vanderlei Carvalho, de Linalva Maria, de Wilson Besnosik, de Anísio Félix, só pra citar os mais chegados a mim. Se continuar desse jeito, não vai sobrar ninguém pra ir no meu velório! Sacanagem!
No final, meu marido acabou achando a página com o obituário, que já estava prestes a ser jogada no lixo pela faxineira. Aí foi que vimos que toda essa celeuma foi causada pela troca de uma letra: o nome do falecido era Jolinaldo da Cruz Freitas e não Jolivaldo da Cruz Freitas. Aliviada, liguei para Marques, Cíntia e Chico para dizer o que eles já sabiam. Que não era Jolivaldo. Que Joli continua vivinho da Silva Xavier! Ou melhor, da Cruz Freitas!

Um comentário:

luís augusto disse...

como é que um artigo destes não tem um só comentário quatro anos depois?

muitos dos mortos aí citados também foram meus colegas e amigos: armandinho, anísio, lina e outros.

jolivaldo, graças a deus, não. O filho da mãe continua aí, azucrinando em crônicas e livros diversos em diversos veículos. o sacana não cansa.
abraços, luís augusto