quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

OS DALITS DA AVENIDA


Eles não são tão bonitos quanto o Bahuan, o personagem de Márcio Garcia da novela Caminho das Índias (TV Globo). Mas são igualmente tratados com preconceito. São garis, catadores de lata, vendedores ambulantes, pessoas que conseguem brincar com pouco ou nenhum dinheiro no bolso. Pela primeira vez, que eu me lembre, essas pessoas tiveram alguma visibilidade na cobertura do carnaval. Através do jornal A Tarde, os leitores puderam conhecer um pouco (um pouquinho) mais de perto, a realidade dessas pessoas invisíveis no carnaval da Bahia.
Pelo trabalho dos jornalistas Flávio Costa, Valmar Hupsel e George Brito que, por algumas horas vestiram o personagem e sentiram na pele as emoções e agruras desses trabalhadores, pudemos acompanhar a realidade dessas pessoas, com bom texto jornalístico, sem pieguices, mas com emoção e verdade. O carnaval da Bahia é bom, mas sempre se repete. Por isso, fazer coberturas diferentes é um tremendo desafio. Os personagens são sempre os mesmos: é Daniela Mercury com suas homenagens, é Bell Marques com sua competência musico-empresarial, é Ivete Sangalo com seus figurinos poderosos e sua música tocada como um mantra... Vai buscar Dalila, vai buscar Dalila, ligeiro, ligeiro, ligeiro... É Carlinhos Brown com sua irreverência genial... Nada contra, mas em termos de assunto, novidade, notícia mesmo, ficamos reduzidos à logística de amamentação de Claudinha Leitte (mais leite do que nunca!).
Por isso, a reportagem depoimento desses colegas que por algumas horas se travestiram de garis, catadores de lata e pessoas comuns, sem credenciais, pulseirinhas, camisetas de camarote ou abadás, acabou se transformando na novidade da cobertura jornalística impressa. Assim como os dalits estão se dando a conhecer ao universo brasileiro através dos personagens da novela Caminho das Índias da TV Globo, a cobertura dos meninos do Jornal A Tarde (perdoe por chamá-los assim, mas é que são de uma nova geração) mostrou a nós, baianos, que temos os nossos próprios dalits. Criaturas de carne e osso, que insistimos em não ver, em não tocar, mas que sem elas, carnaval seria impossível.
Além dos dalits da avenida, outra figura que mereceu destaque entre os destaques neste carnaval foi o Rei Momo. Que, pela primeira vez em muitos carnavais, teve algo a dizer, além do óbvio. Ficou provado que, embora reine, mas não governe, o Rei Momo Gerônimo, tirou mais que onda mandando espertíssimos recados através do seu escriba, o jornalista Sandro Lobo. Ficou evidente também o recheio do Rei Momo não pode ser apenas “banha”. Seja gordo ou magro, o Rei Momo tem que ter carisma e algo a dizer, além de decretar paz e amor. E é bom que fique claro que não é todo mundo que consegue dizer as coisas que o nosso Gerônimo disse com tanta simpatia e competência. Algo que só o carisma de um artista do seu quilate pode dar. Outra novidade foi a cobertura on line pela Web Tv do jornal A Tarde provando que a convergência das mídias é mais do que uma tendência. É uma realidade! Não há mais como dissociar um meio do outro. É tudo junto ao mesmo tempo agora.
Dizem que os jornalistas não gostam de tecer elogios a ninguém com receio de dar a impressão serem puxa-saco. Eu não me importo com isso porque quando não gosto também me manifesto. E sou defensora ferrenha da idéia de que não são apenas as críticas negativas que dão força e prestígio nessa minha profissão, apesar da maioria dos jornalistas preferirem sempre engrossar o coro dos discordantes, dos que não gostam, dos que só criticam e nunca elogiam. Discordar é legítimo. Mas não pode ser a regra. Aliás, concordar e discordar são verbos com os quais os jornalistas estão mais do que acostumados, por isso não pude deixar de destacar o trabalho desses colegas que conseguiram de maneira simples e criativa, fazer o lugar-comum ser menos comum.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tenho orgulho de assessorar o Sindilimp-BA, dos trabalhadores em limpeza. Sei o quanto eles lutam para mostrar o papel social da categoria. A matéria de Valmar Hupsel Filho foi recebida com emoção pela diretoria.

Um beijo querida amiga e mentora!