sábado, 25 de outubro de 2008

TRABALHO x EMPREGO

Escolher uma profissão é um momento importante. Sempre digo que nessa hora a gente tem que pensar mais nas coisas que a gente gosta de fazer e do que no dinheiro que gostaria de ganhar... Para mim não adianta escolher uma profissão da qual não se gosta muito apenas porque ela vai lhe possibilitar ganhar uma grana para fazer o que você gosta. Mas isso é coisa de quem não gosta de TRABALHAR... É coisa de gente quem quer tem EMPREGO e não TRABALHO. E é bom que fique bem claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Fico pensando nas pessoas que sonham em fazer concurso público, sonho de consumo de 9 entre 10 pessoas que não querem trabalhar. Para a maioria dessas pessoas, com poucas exceções, pouco importa a CARREIRA. O que importa é o SALÁRIO. Elas cansaram de trabalhar muito e ganhar pouco, então dedicam-se a estudar para passar num concurso e fazer o caminho inverso: trabalhar pouco e ganhar muito (ou pelo menos, melhor). Não pense o meu insano e amado leitor que eu condeno esse tipo de pensamento. Não. Apenas considero que essa é uma escolha que não tem nada a ver comigo já que sou uma pessoa que gosta de TRABALHO não de EMPREGO.
Eu jamais conseguiria levar uma vida contando as horas que faltam para encerrar o expediente para ir fazer algo que eu gosto ou que realmente valha a pena. Não conseguiria viver contando os dias para chegar o fim de semana, contando os meses para as férias ou os anos para a aposentadoria. Sou daquelas pessoas que realmente se diverte no trabalho. O dia passa e eu nem percebo. Quando penso que não, o dia já acabou. E eu volto pra casa cansada, mas feliz porque sei que amanhã voltarei ao batente e poderei dar continuidade ao meu trabalho.
Eu tenho prazer em me sentir útil à sociedade. Tenho satisfação em estar servindo a alguém ou a algo. E é essa e não outra a razão do TRABALHO: você empregar sua força, sua energia, seu conhecimento para desempenhar uma tarefa em prol de alguém ou de algo. O salário ou a remuneração é uma consequência disso. Não quero dizer com isso que as pessoas devem trabalhar de graça. Não. O salário é importante. Mas ele não deve ser a razão de ser do trabalho. Senão, tudo mais perde o sentido.
PENSAR NÃO É PROIBIDO
Nesses 20 e poucos anos de batente tenho visto é coisa... E, nesse tempo todo, muita coisa ainda me espanta. Por incrível que pareça. Uma, em particular, me entristece: a falta de raciocínio crítico da maioria dos repórteres que não conseguem ir além da pauta. Eles não são repórteres, são apenas cumpridores de pauta. E tem mais! São de uma arrogância singular! Tratam as outras pessoas com o mesmo desprezo com o qual os deuses do Olimpo tratavam os simples mortais na Mitologia Grega. Se o mortal for assessor de imprensa então... Coitado!
Tenho uma historia para ilustrar o que eu digo. Outro dia eu estava acompanhando um concerto do coral infantil do Colégio Anchieta que é meu cliente. Mandamos releases e sugestões de pauta para toda a imprensa. Meus leitores hão de estranhar porque que eu, uma jornalista formada com mais de 20 anos de profissão achava que a imprensa baiana devesse cobrir um concerto de um coral de colégio. Eu explico: tratava-se de um concerto solene que comemorava os 10 anos do coro que reúne crianças e jovens de 7 a 14 anos e que conta com uma estrutura física e humana similar a de um pequeno conservatório no qual os meninos e meninas aprendem a ler partitura e têm lições de teoria musical. Apesar da pouca idade (alguns acabaram de ser alfabetizados) os pequenos coristas cantam peças complicadíssimas de autores como Carl Orff, por exemplo. Trata-se do único Coro de Pequenos Cantores do estado da Bahia com este nível musical.
Pois bem, a jovem repórter de uma rede de televisão chegou ao local para cobrir o evento. Com uma cara amarada de quem está fazendo uma pauta menor, sem relevância, mal disse boa noite. Com o sorriso que me é peculiar me ofereci para ajudá-la explicando a ela tudo o que eu havia eexplicado a vocês no parágrafo acima, para que ela se sentisse mais confortável e segura de que ela não estava fazendo uma pauta tão sem importancia assim. Num estado onde a maioria das crianças só sabe cantar a música do CRÉU, um coro de meninos e meninas cantando em latim, alemão e outros idiomas, que é capaz de ler partituras e que está completando uma década de existência é realmente o que podemos chamar de uma BOA NOTÍCIA.
Mas ela não se convenceu disso e foi logo me impondo suas condições: "olha, vim aqui só pra fazer um registro. Só vou entrevistar três coristas (dois pequenos e um maior). O maestro, não precisa..." Eu não estava querendo que ela fizesse um documentário sobre o Coral, mas ter saído de lá sem entrevistar o regente ou mesmo o diretor acadêmico do colégio não é o que eu chamo de apurar corretamente uma pauta. Ela simplesmente pegou as informações do folder que eu dei pra ela, copiou e fez sua matéria ignorando o resto.
Para ajudar, ainda tentei sugerir que ela entrevistasse o diretor do colégio aí ela me ditou as regras da emissora: "não sei nem se eu vou citar o nome do colégio porque a emissora não permite..." Ok. Acontece que se o Colégio Anchieta não existisse ou não tivesse uma linha pedagógica que contemplasse a formação integral do ser humano, esse coral não existiria, muito menos estaria completando 10 anos de existencia. Quer dizer: não haveria a NOTÍCIA. Mas ela estava muito ocupada em cumprir a pauta e empenhada em obedecer as regras da emissora...
Acontece que cumprir a pauta é necessário. Obedecer as regras da emissora também. Mas pensar não é proibido. Ou será que é?

4 comentários:

Anônimo disse...

Querida Su,

O jornalismo pode necessitar de régua e compasso, mas precisa "estar no sangue" de quem o abraça. Essa profissão é um caso de amor, não é? Sem amor, não há quem sobreviva nela:-D Devia ter me mandado essa pauta, que coisa mais linda!
Beijos, te amo,
Nil

Suely Temporal disse...

Nil, há quanto tempo, menina! desde qe vc voltou para o Velho Mundo num tive mais notícias! Apareça no MSN pra gente conversar! Ainda há tempo de fazer essa matéria se vc quiser. Beijo,
Su

Mônica Bichara disse...

Faltou sensibilidade, mesmo, Su. Tem gente que já sai pra trabalhar de má vontade e não consegue avaliar a importância de uma pauta como essa, que só dependeria de um bom repórter para torná-la superinteressante. E taí uma coisa que vc nunca vai deixar de ser: jornalista com "J" e repórter com "R". beijão e parabéns por defender tão bem essa nossa profissão.
Mônica

Anônimo disse...

Bem; mais um capítulo da tensão assessor x repórter. Never-ending...