terça-feira, 7 de novembro de 2006

MORREU E FOI AO SALÃO

Tem gente que não pensa na MORTE. Outras pessoas, porém, vivem pensando nela. Outras até, conseguem se precaver e PLANEJAR o próprio enterro. Sim, meus insanos leitores! Tem gente que, além de planejar o seu próprio funeral, planeja também o DOS OUTROS. Sem segundas intenções, é claro!
Eu mesma, graças à minha mãe, já tenho aonde cair morta. Preocupada em "não dar trabalho a ninguém quando morrer", minha mãe comprou, já há bastante tempo, uma cova. Aliás UMA não, DUAS. Isto aconteceu logo quando surgiu em Salvador a NOVIDADE do cemitério parque. Aquele em que parece um jardim e que as pessoas são todas enterradas no chão, e não tem aqueles mausoléus opulentos e carneiras opressivas. Um dia, ela recebeu a visita de um vendedor de túmulos que a convenceu, sem muito esforço, de comprar um jazigo para ela e outro para o meu pai. Graças a Deus, e para ALEGRIA da família e dos donos do cemitério, eles nunca precisaram usar...
Só que agora, surgiu uma OUTRA novidade no mercado funerário de Salvador: o CREMATÓRIO. A última palavra em termos de rito de passagem... Aí a cova ficou fora de moda e minha mãe, que é uma mulher MODERNA, antenada com as últimas tendências deste e do outro mundo, resolveu que ia querer ser CREMADA e não mais enterrada como antes. Ainda mais depois que foi a duas ou três cerimônias de cremação, as quais considerou muito mais BONITAS que o tradicional sepultamento.
Na condição de proprietária de DUAS espaçosas e inabitadas covas, não quis se desfazer do patrimônio adquirido. Sendo assim, DOOU os referidos jazigos para suas duas filhas. Ou seja minha irmã e eu. Desta forma, LITERALMENTE deixei de ser uma pessoa que não tem aonde cair morta. E já tenho até vizinha conhecida no local!!!
Mas histórias de morte e velório são SEMPRE impressionantes. Tem gente que não gosta de ficar MAL nem depois de morta e deixa rigorosas instruções para a família de como proceder após o seu passamento. Hoje já existem até empresas funerárias investindo em enterros temáticos. SIM! Como as festas de aniversário - que têm temas e decoração do gosto do aniversariante - os velórios agora também podem ter itens que sejam do agrado do falecido tais como: bandeira do time preferido cobrindo o caixão, flores das mesmas cores para combinar e outras coisas bem mais inusitadas. Podem apostar!
Tem gente que leva esse negócio de ÚLTIMO DESEJO muito a sério, como o caso do meu amigo cuja mãe havia sido uma pessoa MUITO vaidosa. Mesmo doente, de cama, ela não dispensava cabeleleiro e manicure. Por diversas vezes presenciei ela dizer que não tinha medo de morrer, mas tinha medo de ficar FEIA depois de morta. De fato, ela havia sido uma mulher belíssima na juventude e, depois de velha, ainda “dava um caldo”. Ela ficava apavorada só de se imaginar com CARA DE DEFUNTO. Então, fez o filho PROMETER que ele iria fazer o MÁXIMO para que ela não ficasse feia no seu enterro. Dito e feito. Quando cheguei ao velório dela, fui direto consolar meu amigo. Para meu espanto, ele me puxou até a beira do caixão para me mostrar a última homenagem que ele havia prestado à sua mãe. Não ficou linda? perguntou. Sem responder, olhei para dentro do caixão que estava todo enfeitado com flores coloridas (margaridas, flores do campo, até gérberas e girassóis). Nas mãos da falecida, colocadas na posição tradicional cruzadas sobre o peito, resplandeciam suas unhas compridas cuidadosamente pintadas de esmalte vermelho encarnado. Cabelo penteado com esmero, emoldurava o rosto maquiado e na boca, um surpreendente batom no mesmo tom do esmalte, exatamente como ela gostava. Se duvidasse tava mais bem maquiada do que muita mulher VIVA que estava na sala.
BEIJOCAS E TABOCAS

Um comentário:

Matilda Penna disse...

Mais que eu com certeza, meu baton é tão clarinho que nem se vê, :).