domingo, 4 de dezembro de 2011

ENSAIO DE FORMATURA


Ensaiei várias vezes como ia começar esse texto. Se fosse no papel já teria rasgado várias folhas. Em fevereiro completo 50 anos. Minha filha mais velha está concluindo o curso de jornalismo na UnB (uma das melhores Universidades do país). Podia ser em qualquer faculdade que eu estaria feliz e realizada. Podia ser qualquer curso que eu estaria orgulhosa. Mas ela escolheu Jornalismo. A mesma profissão que abracei há quase 30 anos. Isto é quase emblemático e tem me transformado na mais patética das criaturas.
Fico pensando na escolha que eu fiz em 1980, quando ingressei na faculdade tão (cheia de sonhos e incertezas) e na escolha que a minha filha fez em 2006 (igualmente cheia de sonhos e incertezas). Depois de tanto pensar me sinto quase acanhada ao concluir orgulhosa de que ela seguiu o meu exemplo.
Uma vez ela me perguntou se eu era uma pessoa realizada. Se eu tinha conquistado tudo o que eu havia sonhado... Disse que sim. Mas a minha resposta não foi 100% honesta, pois muitos sonhos e projetos ficaram por concluir, por conquistar. Morar no exterior, trabalhar num grande jornal em São Paulo, só pra citar dois. Apesar disso, não me sinto incompleta ou fracassada. Ao contrário. Acho que ainda tenho muito a realizar.
Não me tornei um expoente do jornalismo nacional e internacional como almejava quando entrei na faculdade, mas, tenho sucesso no que faço e estou em paz comigo mesma e com a profissão que escolhi. Casei, tive duas filhas, separei, casei de novo, montei uma empresa de comunicação corporativa (não necessariamente nessa ordem). Gosto do que faço e vivo do meu trabalho. Como uma aranha que vive do que tece. E, tirando as contas que sempre chegam no fim do mês, não devo nada a ninguém.
Essa era a vida que tinha sonhado quando comecei no jornalismo? Acho que não, mas eu nem lembro mais direito o que eu queria ser. O importante é que gosto da vida que tenho. Podia ter um apartamento maior? Sim. Podia ter um carro melhor? Sim. Podia ter uma casa de praia? Viajar mais a passeio? Ok. E daí? Mas acho que essas também são coisas que ainda posso conquistar. Se eu quiser.
Se eu morresse hoje. Qual teria sido a minha maior ou melhor realização? Teria dificuldades em dizer. Me orgulho de tantas coisas, mas minhas filhas estariam em primeiro lugar no quesito “obra inacabada”. E o que dizer da filha mais velha que está se formando na mesma profissão que eu? Tenho que fazer um esforço enorme para não pagar muito mico. Mas é inevitável! Fico insanamente orgulhosa quando dizem que ela parece comigo e que tem o meu DNA.
Ao mesmo tempo, fujo disso porque eu a amo tanto que não quero que ela viva a vida inteira sendo comparada a alguém, ainda que esse alguém seja eu: um ser humano que é tão incompleto, cheio de defeitos e incompetências... Vixe! Que coisa doida! E como escreve bem a pirralha! E como é tagarela, inteligente, cheia de ideias naquela cabecinha de vento. E como é teimosa e ao mesmo tempo insegura, meu Deus! Me irrito quando enxergo seus defeitos porque eles também são meus. Filho é muito complicado!
Solenidades são ritos de passagem. Minto ao dizer que elas me aborrecem. Elas me emocionam! Casamento, formatura, batizado, funeral, não importa! Todas elas são carregadas de significado e emoção. E, nesse momento em que minha filha está se formando quero viver com ela todos os momentos, mas a distância física que separa Salvador de Brasília impede que eu faça isso. Na próxima terça-feira já começo faltando à banca na qual ela vai apresentar o seu TCC. Eu não estarei lá fisicamente, mas todo meu pensamento e meu coração estará com ela. Mas no dia da formatura, da solenidade, da colação de grau, eu estarei com ela em Brasília.
Todo mundo (inclusive eu) diz que a gente cria filhos para o mundo. E é verdade. Mas no fundo, bem lá no fundo, a gente não queria que fosse assim. A gente queria que eles ficassem sempre perto da gente. É muito difícil criar filhos para o mundo. Eu sei que é. Minha filha mora longe de mim desde os 17 anos... Quando ela foi morar em Brasília por causa da faculdade passei a chamá-la de “águiazinha” porque as mamães águias empurram os filhotes para fora do ninho para que eles possam aprender a voar. Fiz isso com a minha aguiazinha, mas como dói! Ainda mais quando a gente percebe que a águiazinha não vai mais voltar.
Os sentimentos se embaralham de tal forma que a gente fica meio bobo. Eu mesma estou assim. Tanto que precisei escrever esse texto todo só pra tentar colocar minhas ideias e sentimentos em ordem. Claro que eu poderia falar isso pra alguém, mas me sentiria meio ridícula. Além do mais, sou muito melhor escrevendo do que falando.
Acho que agora preciso encerrar, mas pela primeira vez, não sei como terminar um texto. Talvez porque os sentimentos e palavras não param de brotar. Isto é sinal de que esse assunto não está encerrado. Nunca estará...

Um comentário:

Anônimo disse...

Temporal, Temporal... Você é uma grande figura! Já passei por essa sua experiência, mas com algumas diferenças. Meu filhote mais velho, Danilo, apesar de escrever muito bem, escolheu a medicina como instrumental de trabalho. E, como médico, tem um texto maravilhoso, muito melhor que a mãe jornalista. E eu babo diante dos escritos dele. É isso aí amiga, curta a sua filhota, dê um fortíossimos abraço nela e informe que a guerreira aqui está na luta pela aprovação da PEC para tornar obrigatório o diploma de JORNALISTA.

Baijão!

Lourdinha Lôbo