quinta-feira, 10 de julho de 2008

A DIRETIVA DO RETORNO


Os brasileiros que moram na Europa estão fazendo o maior estardalhaço acerca da morte da criança atingida por um tiro na cabeça após o carro em que ela estava junto com a mãe e o irmão ter sido metralhado pela polícia carioca, no Rio de Janeiro. Aquilo realmente foi uma barbaridade. Mas, qual é a novidade? Que a polícia brasileira é uma das mais despreparadas do mundo, todo mundo sabe. E por mais protesto que os cariocas façam nos seus calçadões, do Leme à Ipanema, por mais passeatas com pessoas vestidas de branco que se façam, isso não vai mudar dessa forma.
É claro que não devemos perder a capacidade de nos indignar com isso. Banalizar a violência e achar que isso é natural, e que faz parte do dia-a-dia das grandes metrópoles, também não resolve. É importante que, enquanto promovemos e participamos de passeatas e protestos indignados, façamos também a reflexão de que precisamos cada vez mais saber votar bem e procurar fazer o que é correto nas nossas vidas, praticando a máxima: quer mudar o mundo? Mude a si mesmo. Não adianta se indignar apenas na hora em que o absurdo acontece. Precisamos ser indignados no nosso dia-a-dia praticando a cidadania na reunião de condomínio, no ônibus, no trabalho, no lazer... Não beber e dirigir, não furar o sinal vermelho, dar vez ao pedestre, dar passagem a outros carros, respeitar a fila, não jogar lixo no chão, só fazer xixi no banheiro (mesmo que você ache que ninguém esteja vendo).

Conversando com minha grande amiga e ialorixá holandesa Mãe Arnild de Eibergen, ela me disse que essa morte do garoto no Rio de Janeiro é o assunto preferido em todas as rodas dos brasileiros indignados que sempre apontam a ocorrência de casos como esse como justificativa para não voltar NUNCA MAIS... Ficam falando que o Brasil é isso, que é aquilo, que tem miséria, violência, fome e prostituição. E nem percebem que com isso, reforçam ainda mais esse preconceito nojento que se volta contra eles mesmos. Acontece que os europeus não querem mais estrangeiros por lá. Como bem disse Leonardo Boff em seu texto Estados europeus desalmados, a Diretiva do Retorno ou da Deportação, ou ainda da Vergonha, “desmascara uma faceta desumana que a cultura européia sempre teve e que dificilmente consegue disfarçar. É uma cultura identitária. Possui dificuldade imensa de conviver com o diferente. Ou o agregou, ou o submeteu ou o destruiu. Invadiu praticamente todo o mundo conhecido, subjugando e matando com a cruz e a espada”. E eu fico pensando, para onde essas pessoas irão quando as autoridades anti-imigração começarem a deportá-los? Na Espanha, o governo já propôs que os estrangeiros desempregados de longa data passem no caixa, acertem as contas e se mandem. E aí?

DORMINDO NO SOFÁ DA SALA
Acontece que, enquanto isso, os brasileiros continuam refestelados no sofá da sala dos gringos como se estivessem ainda deitados eternamente em berço esplêndido da pátria amada, salve, salve que eles tanto criticam. E com a bunda nas almofadas dos outros os brasileiros no exterior ficam apontando os defeitos do Brasil, como se isso fosse fazê-los se sentirem melhor. Afinal, quando a gente está numa merda, tem que ficar procurando ver se merda dos outros é ainda maior para não se sentir tão mal... Tipo assim: aqui é ruim, mas lá é bem pior. Só que não é bem assim. A quem interessar possa, o Rio de Janeiro continua lindo e o Brasil é um ótimo país para se viver SIM! No litoral, de Norte a Sul - mais ao Norte que ao Sul (rsrs) - as praias continuam cheias e por toda parte do país as pessoas estudam, trabalham e vivem com alegria e esperança. E a vida segue seu curso. O mau humor não predomina, a depressão não é uma epidemia e o suicídio não é solução adotada pela maioria das pessoas.
O que mais surpreende é que as pessoas que moram no exterior, acham que são bem-vindas por lá. O que é pior. Acham que têm o DIREITO de ficar. Esquecem-se que o visto é uma concessão que pode ser revogada ou por um fato particular ou por uma conjuntura coletiva. Para os europeus e estadunidenses, os imigrantes são pessoas incômodas, eternas visitas dormindo no sofá da sala, incomodando os donos da casa, que são muito polidos para enxotá-los, mas que no dia-a-dia os fazem perceber o quanto eles não são bem-vindos. Sobre isso, só posso dizer que eu JAMAIS seria uma estrangeira por opção. Porque simplesmente não conseguiria viver assim. Das migalhas da mesa dos outros. Somente uma situação extrema de guerra ou qualquer outra calamidade desse porte me fariam aceitar essa condição. Mas voluntariamente, de jeito nenhum!

COMADRES INTERNACIONAIS...
Não quero dizer com isso que sou contra os estrangeiros ou contra imigrantes. Que meus amados e insanos leitores não me tomem como uma xenófoba. Ao contrário! Concordo que a imigração é uma coisa bacana, necessária e benéfica para o progresso e evolução da humanidade. Não aprovo a segregação. Acho que os povos devem mesmo se misturar, até porque somos todos parte de uma única raça: a dos SERES HUMANOS. Acredito nisso. Mas embora os imigrantes tenham sido acolhidos no Brasil com generosidade, as políticas da comunidade européia de hoje, não mostram nenhuma reciprocidade. Com ações articuladas, se revelam cruéis e sem piedade. Por isso, critico os brasileiros que ficam apontando os defeitos do Brasil como justificativa para seus dramas pessoais, suas incompetências ou dilemas particulares. Optou por não viver no Brasil? OK! Faça bom proveito. Mas não venha dizer que vocês moram lá porque o Brasil não presta. É muito fácil ficar criticando à distância, ouvindo e reproduzindo o disse-me-disse das comadres internacionais.

2 comentários:

Anônimo disse...

Su,
Eu li seu post com muito gosto. Ser estrangeira por opção: esta frase abriu um folder no meu HD...
Muitas vezes me meti em discussões sobre este assunto da imigração. Para meu estarrecimento, ouço pessoas repetirem a ladainha do "eu escolhi", como se fosse possível "escolher" morar no país alheio; como se não fosse necessário fazer uma parceria, submeter-se a regras, receber uma concessão de residência, lutar por um lugar/emprego na sociedade "escolhida", que, muitas vezes, não reconhece o "eleitor".
As mesmas pessoas que não pagam impostos no Brasil, mas pagam nos países onde moram, cheios de imperfeições. Destas não se atrevem a reclamar, e recriminam os que o fazem; pois, enquanto falar das misérias brasileiras é legítimo, exercer um mínimo de cidadania continua sendo da mais alta ordem.
Basta abrir os jornais todos os dias, para saber que não querem mais imigrantes pobres por esta canto de sereia chamado Europa. Como já dizia o grande sociólogo Zygmunt Bauman, vão mandar embora, trancar a porta e jogar a chave fora.
Eu tenho muita pena de quem está iludido por um futuro tranqüilo neste continente. É o canto da sereia, que não cessa jamais...
Beijos,
Nil

Cristina Costa disse...

Ola, Suely
Há qto tempo...eu agora moro na alemanha. Faz apenas um ano.Mas foi o amor que me trouxe pra cá.
Gostria de retomar o nosso contato.Gostei do seu blog.
meu email: cristinapcosta@hotmail.com
Cristina Costa
reporter e apresentadora